http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3872402-EI6578,00-Eunice+Terazzi+Um+amor+que+nao+existe.html
Republico aqui apenas trechos do artigo que pode ser encontrado em sua íntegra no link acima, e acentuo que as ênfases (bold e itálico) são minhas.
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....Em 2 de julho, Eunice repetiu um antigo roteiro, no bairro do Butantã, em São Paulo. Encontraria o namorado Antonio Augusto de Oliveira, 71, com quem mantinha um namoro de 25 anos. Era um relacionamento amadurecido: por escolha de Eunice, viviam em casas separadas, num exercício de liberdade. Naquele dia ela estacionou o carro em frente à casa de Antonio, por volta das 19h30, e desceu para pegar o neto Pedro Henrique, 4, no banco traseiro. Esse último gesto terminou abortado por um tiro na testa. Supõe-se que um assaltante tentou roubar o carro e se assustou com a reação de Eunice.
O perigo cruzou com a família Terazzi outras duas vezes, em pequeno espaço de tempo. Na rua da filha, também ao estacionar, Eunice pressentiu um assalto e, ao gritar, atiçou os latidos dos cachorros, que atraíram os vizinhos às janelas. Noutra vez, roubaram o carro de Gláucia. Em depressão, ela recebeu os estímulos maternos para deixar de ter medo das ruas, dos cruzamentos, das calçadas. A morte de Eunice trouxe para Gláucia a impossibilidade de um consolo. Dormiam na mesma cama até a filha casar-se. Desde esse adeus o cachorro Sheik passou a fazer-lhe companhia.
Pela manhã, Eunice era, antes de mãe e avó, um despertador: acordava Gláucia e o neto, Pedro Henrique, a quem dedicava "um amor que não existe". De cedo, ela aprendeu a aglutinar a família, na pobreza discreta da Vila Indiana, em São Paulo, onde os pais viviam em casas interligadas com seus tios, na infância repleta de primos e pratos italianos. Eunice levava água na bacia, "numa vida bem pobrezinha", como define a filha. Os Terazzi adquiriram uma banca de jornal, na porta de uma padaria. Das revistas e gazetas tiravam o trigo. Nesse universo a garota começou a assimilar a publicidade e a linguagem dos vendedores, fundamentais para quem optaria pela faculdade de Marketing.
"A gente só tem nosso nome e nosso estudo. E o resto se conquista", avisava a Gláucia, ao pedir mais empenho na escola. Criada pela mãe, a filha diz não ter sentido falta de um pai, tamanha a multiplicidade das funções de Eunice. Fisgada pela memória, relembra o dia em que, aproveitando a ida da mama para a casa do padrasto, num fim de semana, arriscou-se na noite com as primas. No retorno, Eunice lhe esperava, como se tivesse antevisto a fuga da adolescente. "Que é que eu vou fazer?" - era o que pensava Gláucia, envolvida na fina bruma paulistana. Aos 14 anos, quando começou a pedir presentes que as asas maternas não podiam dar, empregou-se numa loja de roupas. Desnecessário imaginar de onde partiu esse conselho.
Nos últimos anos, Eunice estava envolvida no projeto editorial da revista "Noiva Linda". Angustiava-se com os impactos da crise financeira sobre o setor de captação. "Quero vender anúncios, mas as pessoas não têm dinheiro. Estou cansada", queixava-se. Havia nisso um quê de resmungo dos bons vendedores. "Amava a profissão e sempre viveu com muitas metas", reconhece Gláucia. Uma dessas metas era dedicar-se ao neto: da natação ao rito das brincadeiras, ele representava "um amor que não existe". Agora que Eunice está ausente, a filha não sabe represar o sentimento que restou: "Eles estão matando e as pessoas não reagem. Ninguém faz nada, somente um ou outro enfrenta. Quero ir embora. Que País é este? ". Às vezes, não encontrar uma resposta é já uma despedida.
1 comment:
Glaucia querida,
nada faz passar a dor da perda de uma mãe mais ainda de Eunice, não é? Mas saiba que muito pouca gente tem , ou teve, Eunice como mãe . E isso é uma benção nessa vida minha filhotinha querida. Mas ela também teve a felicidade de ter uma filha como vc nesse plano. E isso Glau tb não é para qualquer mãe.Sorria quando pensar nela e perdoe esse mundo tão duro de se viver! Viva agora pra o Pedro Henrique e o seu maridão.Que Eunice nunca irá abandonar vcs.E use a doçura que vc tem, a ternura que vc é.Muito carinho da Ana
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