a few remarks sobre a parte 1:
a) logicamente a palavra inglesa não tem circunflexo no "e", conforme grafei corretamente em outras partes do texto. Eqto escrevo, fico apagando, reformulando frases e adaptando palavras, mas nada justifica ter escrito "inglêsa".
b) a moça Isa, que comentou na parte 1, sabe mais de inglês do que 95% dos NORTE- AMERICANOS que conheci pessoalmente na vida. Fico sempre impressionado com ela.
c) Formatar texto neste blogger é um saco. A não ser qdo vc tem o texto pronto, mudar fonte, sublinhar, negritar, quebrar parágrafos, etc, nunca sai certo como vc pretende (no caso, eu).
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Parte 2
Terminei a 1a. parte falando da faculdade.
Já a partir do 2o. ano, comecei a procurar estágio ou algum tipo de ocupação relacionada à área. Na faculdade, 97% da classe eram mulheres. Dessas, 80% queriam ser secretárias bilíngües, 10% queriam ser professoras, 6% n queriam ser NADA e 1% talvez fosse trabalhar com o q estava estudando. Éramos em 3 homens, eu, um japa roqueiro alienado e um moço gay. Mesmo com a convivência, nunca cheguei a saber os objetivos deles (no sentido de estarem ali).
Fiz, realmente, alguns "estágios". Trabalhei no escritório de um tradutor juramentado, ali no centrão velho, que só sabia berrar e beber cerveja o dia inteiro (literalmente). Nesta época a turma estava começando a usar computadores, o editor de texto era o Word for DOS, mas ele se negava terminantemente, era tudo na máquina de escrever.
Ora, no trabalho de tradução vc ERRA muito, MUDA muita coisa. Bom, essa linha da história n vai dar em nada. Houve muitos caminhos e descaminhos, mas vamos ao que eu queria colocar:
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Como eu comecei a aprender e outros assuntos:
a) por observação: quando vc está começando, seja HUMILDE e observe muito. Se vc for provido de inteligência, conhecimento e bom-senso, tanto melhor. Fica mais fácil diferenciar os bons dos ruins, e assim separar o lixo (mesmo no lixo há coisas interessantes, vc aprende muito sobre o que NÃO fazer) daqueles tradutores com qualidade e diferentes estilos.
b) no começo, antes de vc desenvolver seu próprio estilo, vale a pena copiar. Um pouco desse, um pouco daquele, alguns métodos, alguns truques. Além da qualidade, velocidade vai ser importante. Treine digitação, acostume-se com o teclado.
c) é básico, mas fundamental: invista em dicionários. Não saia comprando indiscriminadamente, vc só vai saber quais são verdadeiramente úteis com a experiência adquirida. Em valores atualizados, entre inglês, espanhol e português, tenho aproximadamente R$20.000,00 em dicionários.
d) no entanto, cuidado com dicionários. Não adianta comprar um Taylor e achar que está pronto para mexer com textos de engenharia mecânica. Uma mesma palavra pode ter cinco, seis entradas diferentes. Como vc vai saber qual é? Ao longo da carreira, vc vai receber glossários (pequenos arquivos com termos do CLIENTE, para AQUELE trabalho). Guarde esses glossários como jóias preciosas. Compare terminologia. Como vc diria que se verte "terraple(a)nagem" para o inglês? Falando em "terra", como vc se referiria ao PLANETA? Ainda, como seria "aterrisar"? E se vc se deparar com "forno industrial", como é "forno"? Experiência, boa memória, tentativa e erro (embora n seja aconselhado "treinar" fazendo um trabalho, pq um trabalho entregue mal-feito é o melhor caminho para não receber mais trabalhos) e as FERRAMENTAS DE BUSCA são essenciais. Observe qual é o assunto específico do trabalho que vc recebeu. Busque por esse assunto na Internet, encontre artigos, sites de empresas, textos inteiros que vão te dar o contexto de como e quando usar tais e tais termos. Descobre-se muita coisa assim. Até o que vc não estava procurando. Quando estiver em dúvida entre dois termos, por exemplo, digite um de cada vez no buscador (AltaVista, Google, etc), coloque algo mais para dar contexto e verifique o NÚMERO DE RESULTADOS, comparativamente. Mas tome cuidado pq na internet tem muita coisa errada. Tente filtrar, quando procurar coisas em inglês, para obter resultados dos Estados Unidos. E mesmo assim observe a origem dos sites (abaixo de cada resultado vem o site onde aquele trecho do texto aparece como texto completo). Muitos resultados vão conter textos em inglês feitos em outros países, com muitos erros. E, mesmo dentro dos Estados Unidos, observe as diferenças entre os ESTADOS. O que é considerado standard no trabalho de tradução e versão, como em tudo, é o que vem das grandes cidades, grandes capitais (grandes no sentido de globais, muito comércio, muita circulação de informações).
e) Crie seu próprio glossário. Tudo que vc observar, todo o retorno que vc obtiver, vá juntando, o que vc n estiver bem certo diferencie por cores, mas vá incluindo, aos poucos e com o tempo vc vai achando as respostas e consolidando seu material. Conhecimento acumulado, neste ramo, é tudo.
f) Vai se meter a fazer a área financeira? Dicionários específicos, glossários, modelos de arquivos, internet. Em "Demonstrações Financeiras" (pra ficar num dos mais óbvios), como vc diria "demonstrações"? "Demonstrations", "Exhibits"? Não, "Statements". "Financial Statements".
g) Leia muito. Em português, em inglês, em espanhol, na língua que vc tiver interesse. Não deixe pra ler e/ou pesquisar só quando tiver trabalho (até pq n há tempo, os prazos são cada vez menores/piores). Se algo apresenta LIQUIDEZ imediata, como é essa "liquidez"? Aliás, como é "líquido", as in "lucro líquido"? Nem pense em "liquid". Em lucro líquido, líquido é "net", a mesma net de "network", rs. Já a "liquidez", e aqui fica uma dica interessante, vc vai saber o que é aprendendo os CONCEITOS. Não pense, tratando-se de textos do mercado financeiro, em liquidez como o estado diferente do sólido e do gasoso. Pense no que SIGNIFICA algo (um bem, uma aplicação) ter LIQUIDEZ. Liquidez, grosseiramente, é a qualidade de algo que fica disponível para uso ou comercialização (um bem ou mesmo dinheiro). Assim, liquidez é "marketability". Se vc n entendeu, sinto muito, ainda tem um bom caminho a percorrer.
h) Lembra aquele filme do Keanu Reeves com o Al Pacino, o "Advogado do Diabo"? Pois é, em inglês era "The Devil's Advocate". Quando vc recebe um texto da área jurídica, o advogado (ou a firma de advocacia) que defende uma parte é um "advocate", um "lawyer", um "legal counselor" ou um "attorney" (ainda há mais termos para "advogado", mas vamos ficar com esses)? É disso que estou falando.
i) No trabalho de tradução, recebemos por lauda feita. O que é uma lauda? É a mesma coisa que uma página? NÃO. Geralmente, hj em dia, uma lauda equivale a 1.000 caracteres, ou seja, cada letra ou sinal de pontuação (menos acentos) digitados. Costumeiramente, vc recebe pela lauda "limpa", isto é, sem contar os espaços. A diferença para 1 página fica, então, óbvia. Vc é pago pela quantidade de texto produzida. Uma página pode conter dois ou três parágrafos com 3 linhas cada. Outra pode ser como uma página do Diário Oficial, com toneladas de texto. O tamanho da fonte também influi, então o mais justo mesmo é a contagem de caracteres digitados.
h) Quando vc se depara com algo a que se atribui a "prescrição após 5 (ou um tempo diferente de) anos", não se espera que vc vá procurar como é "prescrição". Espera-se (novamente) que vc tenha familiaridade (por familiaridade, entenda um "conhecimento rasteiro, de leigo") com o CONCEITO de prescrição. Por isso volto à observação de que dicionários não são solução mágica, nem "saber inglês" faz de alguém um tradutor. Quando vc souber que existe e o que significa "Statute of Limitations", vc estará no caminho certo. Seja em papel ou na Internet, busque glossários/dicionários monolíngües. Às vezes a explicação te dá o caminho para a busca.
i) Outro dia passei 2h 10min para lembrar o que se usava na expressão "os autos vieram até mim conclusos". Não lembrava de jeito nenhum o que significava "conclusos". Desisti. Fui lembrar na manhã seguinte, tomando café. "Under advisement".
j) Supondo que vc conheça bem o idioma, a tendência é querer dar uma sofisticada no começo. Passa o tempo, vc percebe que é importante que as pessoas que te dão trabalho SAIBAM que vc SABE um monte de coisas. E é bacana mesmo saber. Depois, a tendência é vc refinar seu estilo, produzindo textos BEM-ESTRUTURADOS, CONCISOS, FIÉIS AO ORIGINAL - porém com as adaptações culturais - quando estas forem aplicáveis e, por fim, a SIMPLIFICAÇÃO. Usar o que é CERTO e não encher linguiça. Nesta fase, vc deixa os "hereto", "hereafter", "Should one choose to do something". Claro, para cada tipo de texto, o estilo adequado. Mas sem ser "over" em nenhum deles.
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Cansei de novo. Na parte final, em mais um post, falarei finalmente sobre:
a) espanhol;
b) freqüência de entrada de trabalho / ganhos;
c) como boa parte dos clientes vê o processo de tradução e como, apesar de toda a repisada "busca por qualidade total", ainda há muito picareta atrapalhando o mercado de quem realmente é profissional.
Até.