Sunday, May 16, 2010

O cadeirante

Hoje, domingo, depois de uma noite que eu queria que se prolongasse por dias, sem vontade de levantar e depois de um café da manhã dos campeões (meu apetite está absurdo), talvez até por isso, fui ANDAR. Desci a Angélica, fui dando voltas por dentro pra alongar e diversificar o percurso e as coisas para ver - pq, pra mim, andar por andar é dose (opinião que mudaria em mais alguns instantes), e voltava sempre para a Angélica como referência. Desci até a casa do caralho bastante mesmo.

Até aí nada demais.

Quando cansei de descer e já estava subindo um bom pedaço, a um quarteirão (na Angélica, no sentido de quem sobe) da Av. Higienópolis, percebo um cadeirante.

(imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgH8x3EIECmgk7VtlyRiT7oW82tAPXdwUwi_klPXwAtO6Y0ZhBLJuuI4HXu0dn41c0apfzXgU80uPu5YpXB4bobiw8jxGvB9l6JctReAqWyx0JoSwJ2Ir1K9N3iKJBgr4_HrDt-R9o3USKk/s1600/cadeirante+2.jpg)

                                           Na foto, um cara mais macho que vc.

Bom, só pra ilustrar, o cara estava todo bem vestido, roupas de marca, tinha lá seus 40 e poucos anos, bem constituído. Mas era um aclive, estava sol, a calçada é uma merda e está toda esburacada (Aqui tem trabalho bem feito e SP é 1 estado cada vez melhor, lembra?). E o cara sozinho.

Pensei por aproximadamente 0,0001 s sobre a possibilidade de o cara me mandar à merda ou se assustar se eu o abordasse. Antes do 0,0001 s passar inteiro, me vi falando:

"Quer 1 forcinha aí, brother, pra onde c tá indo?

Ao que ele responde, com a MAIOR simpatia do mundo, um sorriso no rosto, sem recalque nem frescura nenhuma:

"Quero sim, estou passeando, vou andar na avenida (Higienópolis) e depois vou pro Shopping (Higienópolis)"

Sozinho. E isso obviamente não era um problema para ele mais do que para mim, que posso andar.

Assim que chegamos na avenida do Shopping, ainda perguntei se ele queria que eu o ajudasse a atravessar no farol, ele Nada, já tá bom, daqui eu me viro sozinho.

Subi o resto do caminho, além de me sentindo bem melhor comigo mesmo (pequenos gestos desinteressados tem esse poder) pensando que, apesar de cada um ser cada um e não ser possível falar: olhaí o cara, fodido mas sai pra lá e pra cá, cheio de disposição, PELO MENOS ele é...

a) uma inspiração para por as coisas (problemas) em perspectiva;

b) uma oportunidade de agradecer quem eu acredito, por poder ANDAR. Qual foi a última vez q vc ficou satisfeito, agradeceu ou ao menos teve CONSCIÊNCIA de que pode ANDAR?

c) um cara bacana. Poderia ser 1 miserável com ódio da vida e ter mandado eu cuidar da minha própria quando ofereci ajuda, mas talvez ainda haja pessoas que encaram a vida e/ou o tempo que passam aqui - dependendo do que vc acredita, ou não, como um tempo a ser VIVIDO, em oposição a um tempo simplesmente GASTO, ou pior, dependendo do ponto de vista, desperdiçado.

É CLARO que outro cadeirante em condição social inferior a esse poderia estar revoltado, um monte de coisas são óbvias, eu não nasci ontem e etc e tals, mas a intenção é mostrar um lado positivo nas coisas. Pq lados negativos já não falta quem mostre.

Parabéns ao bacana da cadeira e obrigado por ter feito meu dia melhor.

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